Os primeiros jornais
circularam em centros de comércio ligados à burguesia. Fazer jornal era uma
atividade barata. O público leitor era restrito a funcionários públicos,
comerciantes e seus auxiliares imediatos. O século XIX europeu mudou
radialmente as condições em que se exercia o jornalismo. Com a Revolução
Industrial, o público leitor ampliou-se rapidamente. Foi necessário mudar
progressivamente o estilo das matérias que os jornais publicavam. Descobre-se a
importância dos títulos, que são como anúncios do texto, e dos furos ou
notícias em primeira mão. Repórteres passaram a ser bajulados, temidos e
odiados. A reportagem colocou em primeiro planos novos problemas, como
discernir o que é privado, de interesse individual, do que é público, de
interesse coletivo; o que o Estado pode manter em sigilo e o que não pode.
A indústria dos jornais
prosperou com a América. Instituíram-se os cursos superiores de jornalismo e
buscaram-se, por via da pesquisa acadêmica, padrões para a apuração e o
processamento de informações. Estabeleceu-se que a informação jornalística
deveria reproduzir os dados obtidos com as fontes; que os testemunhos de um
fato que deveriam ser confrontados uns com os outros para que se obtivesse a
versão mais próxima possível da realidade. É através do jornalismo que a
informação circula, transporta para uma língua comum e simplificada, a
informação torna-se, portanto matéria prima fundamental e o jornalista um
tradutor de discursos.
O repórter para fazer o seu
trabalho tem como auxílio a pauta, que não só orienta como também facilita e
agiliza na construção de uma matéria. A instituição da pauta como procedimento
padronizado é relativamente recente. Antes, apenas as matérias principais ou de
interesse da direção eram programadas. O principal objetivo de uma pauta é
planejar a edição. O princípio é que, mesmo que não aconteça nada não previsto
em determinado dia o jornal sairá no dia seguinte. Evita o consumo inútil de
homens-horas em produtos que jamais serão veiculados. A pauta deve, tanto
quanto possível, disponibilizar as informações que se tem previamente e indicar
as fontes de pesquisa conhecidas para a preparação da matéria. Deve também
avaliar o tempo necessário à apuração adequada.
As fontes de informação com
que se organizam as pautas são notícias publicadas em rádio, jornal, televisão
e na internet, press releasIes e informações liberadas por fontes diversas,
como assessorias de imprensa; dados que chegam ao conhecimento dos repórteres
em seu trabalho rotineiro; matérias realizadas em outras praças, cartas,
telefonemas e e-mails de leitores ou
de qualquer outra origem.
A forma de obter as
informações com a fonte é através da entrevista, que pode ser ritual (o ponto
de interesse está mais centrado na exposição da voz, da figura do entrevistado,
do que o que ele tem a dizer), a temática (aborda um tema), testemunhal (o
relato do entrevistado sobre algo de que ele participou ou a que assistiu) e profundidade
(o que interessa é a figura do entrevistado). Nilson Lage dá orientações para
ajudar o jornalista na hora de fazer uma entrevista: não confiar só no
equipamento, “porque equipamentos enguiçam”, por isso o jornalista deve anotar
palavras chaves, indicando os principais temas na sequência que ocorreram.
Fazer uma pesquisa para ter uma idéia do que vai perguntar e saber perguntar
sobre a resposta.
As circunstâncias da
realização de uma entrevista podem ser ocasional (não é programada), confronto
(o repórter assume o papel de inquisidor), coletiva (o entrevistado é submetido
a perguntas de vários repórteres, que representam diferentes veículos) e dialogal
(é a entrevista por excelência). A entrevista coletiva beneficia o
entrevistado, porque há limitação no bloqueio do dialogo, isto é, da pergunta
construída sobre a resposta.
O jornalista deve sempre estar
se orientando pela ética de sua profissão, e saber que assim como ele tem
direitos como o sigilo da fonte, existe coisas que não são permitidas e devem
ser respeitadas. Supostos desafios éticos fundamentam-se na tese radical de que
a divulgação de um procedimento é capaz de induzir pessoas a reproduzi-lo. Por
esse critério, não se divulgam suicídios, para evitar que as pessoas, por
imitação, se suicidassem, nem roubos ardilosos, para impedir que o ardil fosse
reproduzido. O autor deixa claro que jornalistas não podem ser éticos sozinhos
se, por exemplo, as empresas e as fontes de informação não o são.
Mais adiante no livro A
Reportagem, o autor entra na discussão de que os jornalistas não precisam ser
“cientistas” nas editorias que “cobrem” e sim devem ter conhecimento suficiente
dos assuntos da editoria a que pertencem. Como Diz Nilson Lage “um repórter de
política nacional, por exemplo, não precisa ser um cientista político (e, se
for, usará em seu trabalho muito pouco da ciência política que aprendeu), mas
devem dispor do máximo de informações sobre a história recente, a organização
do Estado e a natureza dos fatos políticos”.
Segundo o livro, o
jornalista obtém uma reportagem completa através da pesquisa. “no entanto, todo
repórter, confrontando-se com assessores de imprensa e entrevistados, já sentiu
o desejo de ir adiante, fuçar papéis e arquivos em busca de verdade mais
completa, menos tendenciosa ou mais conforme o desejo de saber do público”. A
internet hoje é o meio mais utilizado pelos jornalistas como forma de pesquisa,
mas um obstáculo é a confiabilidade, não se sabe se o que está na internet é
verdadeiro, se resulta de um trabalho sério, de mera especulação ou fantasia. Outra
forma de pesquisa é através de bancos de dados, dispositivos que permitem
armazenar de maneira ordenada grande volume de informações, em forma de
números, textos, fotografias, gráfico e etc. Os bancos de dados permitem ganho
de tempo, qualidade das informações e consequentemente do texto.
Considerações
O livro de Nilson Lage passa
pelos vários “caminhos” do jornalismo, desde o repórter até o entrevistado, que
é de grande utilidade e fonte de conhecimento não só para os jornalistas, mas
principalmente para os estudantes de jornalismo, porque o livro é uma espécie
de conhecimentos básicos para quem ainda está ganhando informações sobre a
profissão de jornalista. “O jornal é atualmente produto de primeira
necessidade, sem o qual o homem moderno não consegue gerir sua vida produtiva,
programar seu lazer, orientar-se no mundo e, finalmente, formular suas
opiniões. É uma forma de conhecimento e um serviço público essencial. Nesse
contexto, nada mais inútil do que um jornalista militante, cujo discurso se
pode adivinhar antes mesmo de lê-lo ou ouvi-lo”.