quinta-feira, maio 31, 2012

Resenha Crítica: Livro A REPORTAGEM de Nilson Lage

            O livro A Reportagem (Teoria e Técnica de Entrevista e Pesquisa Jornalística) de Nilson Lage, é composto de oito capítulos e mais o Apêndice. Na obra o autor percorre várias “etapas” se assim pode se dizer do jornalismo, partindo do repórter e seguindo para a pauta, fonte, entrevistado, ética, pesquisa e etc.

 No primeiro capítulo chamado, Ser repórter, Nilson Lage começa dizendo: “para as pessoas em geral a figura humana mais característica do jornalismo e quem é mais importante na redação segundo os jornalistas é o repórter”. E prossegue explanando desde o surgimento do jornalismo no século XVII, que era essencialmente publicista.

Os primeiros jornais circularam em centros de comércio ligados à burguesia. Fazer jornal era uma atividade barata. O público leitor era restrito a funcionários públicos, comerciantes e seus auxiliares imediatos. O século XIX europeu mudou radialmente as condições em que se exercia o jornalismo. Com a Revolução Industrial, o público leitor ampliou-se rapidamente. Foi necessário mudar progressivamente o estilo das matérias que os jornais publicavam. Descobre-se a importância dos títulos, que são como anúncios do texto, e dos furos ou notícias em primeira mão. Repórteres passaram a ser bajulados, temidos e odiados. A reportagem colocou em primeiro planos novos problemas, como discernir o que é privado, de interesse individual, do que é público, de interesse coletivo; o que o Estado pode manter em sigilo e o que não pode.

A indústria dos jornais prosperou com a América. Instituíram-se os cursos superiores de jornalismo e buscaram-se, por via da pesquisa acadêmica, padrões para a apuração e o processamento de informações. Estabeleceu-se que a informação jornalística deveria reproduzir os dados obtidos com as fontes; que os testemunhos de um fato que deveriam ser confrontados uns com os outros para que se obtivesse a versão mais próxima possível da realidade. É através do jornalismo que a informação circula, transporta para uma língua comum e simplificada, a informação torna-se, portanto matéria prima fundamental e o jornalista um tradutor de discursos.

O repórter para fazer o seu trabalho tem como auxílio a pauta, que não só orienta como também facilita e agiliza na construção de uma matéria. A instituição da pauta como procedimento padronizado é relativamente recente. Antes, apenas as matérias principais ou de interesse da direção eram programadas. O principal objetivo de uma pauta é planejar a edição. O princípio é que, mesmo que não aconteça nada não previsto em determinado dia o jornal sairá no dia seguinte. Evita o consumo inútil de homens-horas em produtos que jamais serão veiculados. A pauta deve, tanto quanto possível, disponibilizar as informações que se tem previamente e indicar as fontes de pesquisa conhecidas para a preparação da matéria. Deve também avaliar o tempo necessário à apuração adequada.

As fontes de informação com que se organizam as pautas são notícias publicadas em rádio, jornal, televisão e na internet, press releasIes  e informações liberadas por fontes diversas, como assessorias de imprensa; dados que chegam ao conhecimento dos repórteres em seu trabalho rotineiro; matérias realizadas em outras praças, cartas, telefonemas e e-mails de leitores ou de qualquer outra origem.

A forma de obter as informações com a fonte é através da entrevista, que pode ser ritual (o ponto de interesse está mais centrado na exposição da voz, da figura do entrevistado, do que o que ele tem a dizer), a temática (aborda um tema), testemunhal (o relato do entrevistado sobre algo de que ele participou ou a que assistiu) e profundidade (o que interessa é a figura do entrevistado). Nilson Lage dá orientações para ajudar o jornalista na hora de fazer uma entrevista: não confiar só no equipamento, “porque equipamentos enguiçam”, por isso o jornalista deve anotar palavras chaves, indicando os principais temas na sequência que ocorreram. Fazer uma pesquisa para ter uma idéia do que vai perguntar e saber perguntar sobre a resposta.

As circunstâncias da realização de uma entrevista podem ser ocasional (não é programada), confronto (o repórter assume o papel de inquisidor), coletiva (o entrevistado é submetido a perguntas de vários repórteres, que representam diferentes veículos) e dialogal (é a entrevista por excelência). A entrevista coletiva beneficia o entrevistado, porque há limitação no bloqueio do dialogo, isto é, da pergunta construída sobre a resposta.

O jornalista deve sempre estar se orientando pela ética de sua profissão, e saber que assim como ele tem direitos como o sigilo da fonte, existe coisas que não são permitidas e devem ser respeitadas. Supostos desafios éticos fundamentam-se na tese radical de que a divulgação de um procedimento é capaz de induzir pessoas a reproduzi-lo. Por esse critério, não se divulgam suicídios, para evitar que as pessoas, por imitação, se suicidassem, nem roubos ardilosos, para impedir que o ardil fosse reproduzido. O autor deixa claro que jornalistas não podem ser éticos sozinhos se, por exemplo, as empresas e as fontes de informação não o são.

Mais adiante no livro A Reportagem, o autor entra na discussão de que os jornalistas não precisam ser “cientistas” nas editorias que “cobrem” e sim devem ter conhecimento suficiente dos assuntos da editoria a que pertencem. Como Diz Nilson Lage “um repórter de política nacional, por exemplo, não precisa ser um cientista político (e, se for, usará em seu trabalho muito pouco da ciência política que aprendeu), mas devem dispor do máximo de informações sobre a história recente, a organização do Estado e a natureza dos fatos políticos”.

Segundo o livro, o jornalista obtém uma reportagem completa através da pesquisa. “no entanto, todo repórter, confrontando-se com assessores de imprensa e entrevistados, já sentiu o desejo de ir adiante, fuçar papéis e arquivos em busca de verdade mais completa, menos tendenciosa ou mais conforme o desejo de saber do público”. A internet hoje é o meio mais utilizado pelos jornalistas como forma de pesquisa, mas um obstáculo é a confiabilidade, não se sabe se o que está na internet é verdadeiro, se resulta de um trabalho sério, de mera especulação ou fantasia. Outra forma de pesquisa é através de bancos de dados, dispositivos que permitem armazenar de maneira ordenada grande volume de informações, em forma de números, textos, fotografias, gráfico e etc. Os bancos de dados permitem ganho de tempo, qualidade das informações e consequentemente do texto.


Considerações

O livro de Nilson Lage passa pelos vários “caminhos” do jornalismo, desde o repórter até o entrevistado, que é de grande utilidade e fonte de conhecimento não só para os jornalistas, mas principalmente para os estudantes de jornalismo, porque o livro é uma espécie de conhecimentos básicos para quem ainda está ganhando informações sobre a profissão de jornalista. “O jornal é atualmente produto de primeira necessidade, sem o qual o homem moderno não consegue gerir sua vida produtiva, programar seu lazer, orientar-se no mundo e, finalmente, formular suas opiniões. É uma forma de conhecimento e um serviço público essencial. Nesse contexto, nada mais inútil do que um jornalista militante, cujo discurso se pode adivinhar antes mesmo de lê-lo ou ouvi-lo”.

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